Este seis de junho marcou as comemorações dos 75 anos do chamado Dia D, a invasão da Normandia pelas tropas aliadas, o que deu início a uma operação que iria culminar com a derrocada do nazismo. Nas comemorações realizadas em Porsmouth, ponto de partida da operação, estavam os dirigentes da quase totalidade dos países aliados. Mas, estava lá também a senhora Angela Merkel, primeira-ministra da Alemanha, o país derrotado na guerra. À primeira vista, uma contradição. No contexto atual, algo plenamente explicável.
Merkel, em seu pronunciamento, destacou a importância da luta para que o nazismo nunca mais apareça. E ela sabe bem o que é esta luta porque, seguidamente, surgem na Alemanha movimentos neo-nazistas. Sem contar o recente crescimento, não só na Alemanha, mas por toda a Europa, de partidos de extrema-direita. Partidos que trazem no seu âmago o nacionalismo exacerbado e a intenção de separar seus países da União Europeia.
Ora, a União Europeia foi constituída e está sendo pilotada por Alemanha e França, dois dos maiores inimigos do período das guerras e justamente os dois países protagonistas maiores do Dia D. O ideal da comunidade foi promover uma grande união das nações européias, procurando sufocar os nacionalismos extremados que levaram a duas grandes guerras e a milhões de mortos. Pouco a pouco a Europa foi se tornando um só grande país, reunindo hoje 28 membros, por onde seus cidadãos e suas mercadorias têm livre trânsito. E 19 países desfrutam ainda de uma mesma moeda que, gradativamente, vai sendo adotada por aqueles que ainda estão fora do sistema monetário.
Preservar esta união é fundamental para os chamados eurocentristas. No entanto, em especial a chegada maciça de migrantes nos últimos anos, tem minado esta unidade e fomentado os nacionalismos. Foi fundamentalmente este motivo que levou os britânicos a votar pelo Brexit, ou seja, a saída do Reino Unido da União Europeia. Algo que, tudo indica, será o primeiro grande desfalque da Comunidade. Especialmente, porque o presidente Donald Trump, que há muito tem se mostrado contra a UE, veio com tudo nos últimos meses em apoio à saída britânica. Acenando, inclusive, aos britânicos com melhores acordos com o EUA. Não é sem razão que Merkel, em um pronunciamento feito algum tempo atrás no Parlamento Europeu, ressaltou que a Europa tinha que se prevenir contra seus inimigos: Rússia, China e Estados Unidos. Ou seja, o maior aliado passou para o lado oposto. Historicamente, os EUA foram vistos como o “guarda-chuva” da Europa. O país que a protegia das ameaças de russos e chineses. Com Trump a situação se inverteu. Não é sem razão que os europeus estão tratando de estruturar sua própria força militar conjunta.