Escrevo esta coluna desde de Washington, onde cheguei para uma permanência de seis dias, com a finalidade de observar in loco a situação norte-americana sob o governo de Donald Trump. Cheguei nesta sexta-feira pela manhã e, como tenho até o início da tarde para concluir a coluna, e havendo ainda uma diferença de duas horas no fuso horário, contra meu prazo de finalização, pouca coisa pode ser observada até agora. Mas, já pode ser feita uma importante constatação, sobre a qual vou falar mais adiante, porque fui impactado, como de resto todo o mundo, com o que foi o inesperado espetáculo do encontro na Casa Branca entre os presidentes Donald Trump e Volodimir Zelensky.
BATE BOCA
Não lembro de um encontro entre presidentes em que não tenha havido um acordo prévio e eles irem para a frente da televisão com tudo já definido. Ainda mais em se tratando de um tema tão importante, como este que envolve a guerra na Ucrânia. O que vimos foi um bate boca público, com acusações mútuas e Trump fazendo uma das coisas que mais gosta: culpar seus antecessores na Casa Branca por tudo que acontece.
“Ou você faz acordo ou estamos fora”, disse Trump para um Zelensky pressionado diante do homem que dirige a maior potência do mundo. E que quer se valer da ajuda que seu país deu até agora para a Ucrânia, para obter, em quantidades muito superiores ao valor enviado, os preciosos minérios existentes em terras ucranianas.
TEMOR
Em meio a seus arroubos, Trump colocou uma advertência importante, que está por trás de suas ações com relação ao conflito ucraniano-russo. “Você está jogando com a Terceira Guerra Mundial”. E este passou a ser um temor generalizado nos últimos tempos. Senão, vejamos. Decorrem três anos e a Ucrânia não consegue expulsar as forças russas. EUA e aliados da Otan fornecem armamentos cada vez mais sofisticados, mais poderosos e de maior alcance dentro do território russo. Putin tem ameaçado retaliar com armas nucleares.
Imagine-se o que resultaria disso aí. De fato, caminhava-se para uma conflagração global. Agora, Zelensky também tem sua razão. Só pode parar a guerra com a garantia de que Putin não irá, no futuro, fazer novas incursões para tomada de território ucraniano. Mas nada justifica o deprimente espetáculo protagonizado nesta sexta-feira na Casa Branca.
OBSERVAÇÃOS
E para não deixar de falar sobre as primeiras observações por aqui, falo daquela que logo me chamou a atenção. A presença marcante de estrangeiros exercendo atividades profissionais. Especialmente, em atividades de suporte. Do aeroporto ao hotel, passando pelo taxista, uma gama de estrangeiros exercendo atividades. Claro que todos esses, aparentemente, de forma legal. No aeroporto, com exceção dos serviços da Polícia Federal, pode-se ver muitos africanos, latino-americanos e até indianos que não abandonam a barba comprida e o turbante.
O simpático taxista que nos levou para o hotel, e que bateu um bom papo durante o trajeto, é natural de Serra Leoa. Este já revela uma das realidades. Trabalha há quase dez anos, mas não obteve autorização para trazer a família. Assim, mulher e filhos moram em Serra Leoa e ele, mensalmente, manda dinheiro para eles. E, uma vez por ano, vai visita-los.
SUPORTE
No hotel, dois atendentes no balcão. Um, cidadão americano, o outro jamaicano. No bar do hotel, uma atendente mexicana, comandada por um gerente vindo de El Salvador. Este, embora ressaltando a mudança que considera altamente positiva de seu país sob o governo de Bukele, diz que saiu antes da ascensão dele, em busca de melhores oportunidades de vida.
Nos corredores do hotel, nem é preciso falar. Aquilo que predomina pela maior parte dos hotéis dos EUA, ou seja, os serviços de camareiras exercidos por latino-americanas. Embora eu ainda não tenha podido referendar, mas, a constatação de outras vezes é de um número elevado de estrangeiros na construção civil e no apoio aos serviços do agro.
OPORTUNIDADES
Apesar de todos os problemas, este continua sendo um país de oportunidades. Não é sem razão que chegam, diariamente, contingentes de pessoas querendo entrar. Em sua grande maioria, buscando uma nova perspectiva de vida. Nem que seja apenas para ganhar o sustento para sua família, conforme faz o taxista oriundo de Serra Leoa. Muitos outros tem a sorte de conseguir o visto de trabalho.
E este continua ainda a ser um dos países que decide os destinos do mundo. Vide a ação de Trump. O detalhe é que antes, tudo era acertado previamente, para ser apresentado ao mundo de maneira formal, conforme requer o encontro de dois grandes líderes. Não se admitindo um bate boca entre dois dirigentes como o de ontem.
Nota: Estou entrando em férias e a coluna retorna no dia 20 de março.