Passei esta semana em Hanoi, capital do Vietnã. Vim aqui matar uma curiosidade. Conhecer este país que era destaque no noticiário do mundo ao tempo em que fazia minha faculdade de Comunicação e quando iniciava no trata do jornalismo internacional. O país estava em guerra contra a maior potência do mundo, Estados Unidos. E as imagens do país continuam a ser profundamente influenciadas pela guerra: florestas desmatadas pelo agente laranja, o massacre de civis em My Lai; uma garotinha correndo, apavorada, com o corpo queimado por Napalm. Mas o Vietnã moderno é muito diferente do lugar abandonado ao Vietcong em 1975. A economia devastada por décadas de combates e pela destruição de boa parte da infra-estrutura e pelo peso do comunismo, refloresceu. Em larga medida propelida pelo turismo.
Mas foram fundamentais as medidas tomadas ao longo do período pós-guerra. Hoje a administração do país se assemelha em muito à da China, porém com alguns avanços. A economia está totalmente aberta. Quem quiser chegar ao país para empreender tem toda a liberdade e apoio governamental. Mas, o fundamental: o Estado enxugou-se. A partir de 1995 começou a modernização, que sofreu grande impulso a partir de 2001 quando, num período de dois anos, foram fechadas cerca de 3000 empresas estatais deficitárias. Ou seja, rompeu-se com um dogma do comunismo de que a economia tem que ser centralizada, as empresas propriedade do Estado e os trabalhadores funcionários estatais. O país, inclusive, aderiu à Organização Mundial do Comércio. Com isto o crescimento em 2018 foi de 6%, média dos últimos anos.
Só o que continuou foi o regime de partido único. Que ainda se intitula comunista e que tem como única forma de atuação a manutenção do sistema de eleição de seus membros. E, logicamente, a manutenção também das restrições à oposição. Conversei com um jovem formado no país e que fez pós-graduação, MBA, em Genebra. E ele contou que no país há liberdade para empreender, liberdade para locomover-se por onde quiser, interna e externamente, só não há liberdade de expressão. Imprensa totalmente controlada.
E o que se mantém, cada vez mais forte, é o culto à figura de Ho Chi Minh, considerado o grande condutor do país e artífice da vitória na guerra e na reunificação. Tanto que Saigon, a cidade que era capital do Vietnã do Sul, capitalista, ganhou o seu nome. E, ironicamente, é mais desenvolvida que Hanoi. Imperdível numa visita à capital, o monumento e enorme complexo que se constitui no Mausoléu de Ho Chi Minh. Enfim, um país que se renova, de belas paisagens, de excelente culinária e de gente hospitaleira. E que na sua essência não é mais comunista.