Começou nesta sexta-feira, 15, e se estende até este domingo, 17, a eleição presidencial na Rússia e não há a mínima dúvida de quem resultará vencedor. Lógico que o presidente Vladimir Putin, que assumiu o poder em julho de 1999 para concluir o mandato de Boris Yeltsin. No ano 2000 foi eleito para a presidência e foi reeleito no pleito seguinte. Como não poderia se candidatar a um terceiro mandato, arrumou um testa de ferro, Dmitri Medvedev, que foi eleito e ele assumiu como primeiro-ministro, mas, sendo o mandatário de fato. Depois disto ele já manobrou o sistema eleitoral, de modo que poderá se reeleger novamente em 2030, permanecendo no poder até 2036. Este, portanto, o homem que viola as leis e extermina os adversários, é o “democrata” que governa a Rússia.
Sim, extermina os adversários, porque os principais oponentes foram eliminados um a um. O mais recente foi Alexei Navalni, que morreu recentemente na prisão. Antes dele foi Ravil Maganov, 67 anos, líder da empresa de gás Lukoil, morreu ao cair de uma janela do sexto andar de um hospital. Pavel Antov, 65 anos, da área de produção de suínos, foi encontrado morto em um hotel da Índia, quando em viagem àquele país. General Genadi Lopirev, 69 anos, da área da construção, morreu na prisão. Ele que fora o responsável por construir uma mansão para Putin às margens dp Mar Negro, com uma visão deslumbrante. Ivan Petchorin, 39 anos, empreendedor, morreu ao cair de uma ribanceira quando realizava uma caminhada. Vale lembrar ainda do líder do grupo Wagner, Evgeny Prigozhin, cujo avião em que viajava explodiu no ar. A lista poderia ir além, mas fico com estes.
Uma vez eliminados os principais concorrentes, Putin precisava dar ar de disputa, providenciando adversários. Os quais, evidentemente, não lhe oferecem nenhuma ameaça. Não se ouve falar nos seus oponentes, mas eles estarão literalmente figurando na eleição. São três: Leonid Slutsky, 56 anos, concorre pelo LDPR, Partido Liberal Democrático da Rússia. É presidente do comitê de assuntos internacionais da Duma, a Assembleia Legislativa russa; Nikolay Kharitonov, de 75 anos, integrante do KPRF, Partido Comunista da Federação Russa. Em 2004, ficou em 2º lugar na corrida presidencial, com 13,69% dos votos; Vladislav Davankov, 39 anos, do partido Novas Pessoas. Ele é o vice-presidente da Duma e vice-presidente de seu partido. Ficou em 4º lugar nas eleições de 2023 para prefeito de Moscou, com 5,34% dos votos. Por aí já se pode perceber qual o grau de seriedade na sua candidatura. Ou seja, só coadjuvantes para figurar e dar ares de legitimidade para um processo que se sabe viciado. Todos os três são apoiadores das políticas de Putin, inclusive com relação à guerra na Ucrânia. Aliás, um tema capaz de levar à prisão quem ousar condenar a invasão do país vizinho.
A campanha pelo comparecimento às urnas é intensa, pois Putin batalha para que haja uma presença de pelo menos 70% do eleitorado, para que o processo não fique ainda mais desacreditado do que já é. Até porque não haverá a presença de observadores da OSCE, a Organização de Segurança e Cooperação Europeia. Interessante que o sistema de votação é feito para contentar adeptos da nova tecnologia e saudosistas. O eleitor pode escolher entre votar em uma urna eletrônica ou com utilização do voto impresso. Convenhamos que o ideal é a união dos dois sistemas. Ou seja: voto em urna eletrônica que emita ao mesmo tempo o voto impresso. Mas isto, logicamente, para um país em que a liberdade seja plena e opositores do governo não sejam impedidos de concorrer. Está havendo ainda a possibilidade de se votar pela internet, o que seria um sistema avançadíssimo, não fosse a falta de confiabilidade nas instituições. Cabe ressaltar que até dentro da Ucrânia estão se desenvolvendo eleições. Elas se dão na Crimeia, tomada pela Rússia em 2014, e em algumas partes da região do Donbas, onde os russos controlam cerca de 18% do território. O detalhe é que a comunidade internacional não reconhece essas áreas como territórios russos.
Assim é que Putin vai se habilitar a governar até 2030, quando poderá se candidatar a mais outro mandato de seis anos. E com isto ele marcha tranqüilo, porque seus opositores ou estão na cadeia ou no exílio em outro país. Ou ainda, conforme se viu na matéria, já foram exterminados.