Os argentinos estão vivendo nos últimos dias momentos cruciais que antecedem a votação no Senado sobre a legalização do aborto. Em junho, numa votação muito parelha, a Câmara dos Deputados aprovou, por 129 votos a favor, 125 contra e uma abstenção, o projeto de lei que permite o aborto livre até a 14ª semana de gestação. Eram necessários 128 votos. Atualmente na Argentina o aborto é permitido apenas em caso de estupro ou risco para a vida da mulher. Nesta quarta-feira a votação será no Senado.
O país está muito dividido. É grande a mobilização de grupos feministas, que defendem o direito da mulher de decidir sobre seu corpo, assim como também é grande o trabalho da Igreja Católica contra a aprovação. O papa Francisco engajou-se à mobilização contrária, tendo inclusive entrado em atrito com o presidente Maurício Macri, o qual diz que é contra a aprovação, mas, que irá respeitar o resultado da votação. Opositores a Macri afirmam que ele diz que é contra, mas mobilizou seus deputados para a aprovação. Já o papa Francisco é criticado porque desde que assumiu o pontificado não fez uma visita ao seu país.
A questão do aborto está dividindo inclusive a classe médica do país. Nesta semana, um grupo de médicos fez uma manifestação se dizendo contrário à realização de aborto. Alguns portavam bonecos em forma de feto e cartazes dizendo: “eu sou médico, não assassino”. Porém, Líderes da prestigiosa Sociedade Médica da Argentina endossaram o projeto de lei. Eles disseram que a mudança ajudaria a reduzir mortes entre as cerca de 400 mil e 500 mil mulheres que fazem abortos clandestinos a cada ano. Já a Academia de Medicina rejeita de forma contundente a nova legislação, enquanto que a associação de médicos especializados em controle de natalidade emitiu uma forte declaração em favor da lei proposta. Autoridades em cerca de 300 hospitais privados e instalações médicas denunciaram essa posição.
Por todos estes aspectos pode-se ver como a sociedade argentina está dividida quanto ao tema. E no país, a Igreja Católica, apesar de ter perdido um pouco de seu poder, ainda é muito influente. Para não passar batido, é preciso destacar também que esta semana os argentinos foram sacudidos por prisões de empresários ligados à operação equivalente à nossa Lava Jato. Mas isto será assunto para outro comentário.