O que era um temor começa a acontecer: o cerceamento das liberdades em Hong Kong por parte do governo de Pequim. Entrou em vigor a lei que, em nome do combate aos atos subversivos e de secessão, impede a vigência dos preceitos democráticos na província que, até 1997, era uma possessão britânica. Fora entregue à China mediante a promessa de, por um prazo de 50 anos, não ter alterada a sua constituição. Passou então a vigorar o que ficou chamado de “um país, dois sistemas”. Mas, como disse nesta semana o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, “a China prometeu 50 anos de liberdade ao povo de Hong Kong, mas deu apenas 23.”
Sob a nova lei, foram reprimidas as manifestações que lembravam nesta quarta-feira o 23º aniversário da devolução à China. Todos temem que este seja o primeiro passo para a imposição na província da lei que vigora em Pequim, em detrimento da lei vigorante em Londres, que é a que deveria permanecer até 2047. Estados Unidos e Reino Unido se levantaram contra a intromissão do governo chinês em Hong Kong. “Não apenas os EUA, o mundo confronta a China” pelo avanço sobre Hong Kong, disse Pompeo. Porém, é o legítimo discurso “para inglês ver”, porque os norte-americanos estão muito mais preocupados é com suas relações comerciais com os chineses. Em pronunciamento feito na quinta-feira da semana passada, Pompeo disse que a “China tinha que parar de roubar propriedade intelectual,” mas, também ressaltou que os americanos “querem mais acesso a mercados de capital chineses.”
A posição mais firme é do governo de Boris Johnson. Uma de suas decisões consiste em ampliar a concessão de passaporte britânico para os cidadãos de Hong Kong. Uma decisão que, no entanto, não tem um efeito no dia-a-dia da península. Apenas facilita a vida de seus cidadãos fora do país. Outra decisão é mais efetiva. Contrariando o governo de Donald Trump, o Reino Unido havia decidido implantar no país a tecnologia 5G da chinesa Huawey, a mais avançada do mundo no setor. E Johnson ameaça suspender essa negociação se Pequim continuar com suas ações em Hong Kong. E sabe-se que é através da Huawey que a China quer ganhar o mundo. Porém, o que mais pode afetar o governo comunista de Pequim é a ação concentrada para impedir os investimentos do Ocidente na China. Isto porque, todos esses investimentos entram através de Hong Kong, que é um dos maiores centros financeiros mundiais. Pois é por ali que entra cerca de 70% do investimento estrangeiro para impulsionar os negócios de Pequim, como a própria Rota da Seda. Mas, como negócios são negócios, não será por pena dos moradores de Hong Kong que os investidores deixarão de lado os seus interesses.