Quando Felipe VI assumiu o reino espanhol em junho de 2014 ele sabia que o desafio maior que teria pela frente não se relacionava, nem com a democracia, nem com o desemprego, em alto no momento, e muito menos com a derrota da seleção na Copa. O desafio era e continua sendo o separatismo. Sentimento marcante em regiões com o País Basco, a Catalunha ou Galícia, as quais têm a sua própria cultura, a sua própria economia e, o que é mais marcante, o seu próprio idioma. Regiões que têm seu parlamento regional, que tem representação junto ao governo central e que já conquistaram alto grau de autonomia. Mas que, mesmo assim, pensam em independência. Conforme se pode perceber nos últimos dias com o plebiscito realizado na Catalunha.
Os catalães desafiaram o governo central de Madri realizando uma consulta popular que não fora autorizada. Mostraram força e determinação. No entanto, apesar da vitória do sim com cerca de 90% dos votos, não se pode esquecer que somente 42% do eleitorado participou. E quem não participou pode ser não apenas por desinteresse, mas por considerar que a consulta não é válida. Felipe VI, assim como primeiro-ministro Mariano Rajoy, tiveram que ir para a televisão para denunciar a ilegalidade da consulta, que só poderia ser feita com a aprovação do Parlamento nacional. No entanto, ficou muito ruim para os dois dirigentes a truculência da polícia espanhola contra os que apoiavam o movimento independentista. A polícia não só arrancou as urnas como bateu indiscriminadamente. Idosos, homens e mulheres, foram atingidos por cassetetes e jogados ao chão. Fato que foi criticado pela União Europeia, que é justamente o organismo que tem dado respaldo ao governo espanhol. A instituição sediada em Bruxelas já declarou que só reconhecerá a Catalunha como um país independente se houver um plebiscito autorizado pelo governo de Madri.
O impasse está estabelecido. O Tribunal Constitucional do país suspendeu até a reunião desta segunda-feira do Parlamento catalão, quando pretendiam anunciar a separação. Uma separação que, se acontecer, terá imensos reflexos dentro e fora da Espanha. Além de bascos e galegos no país, podem seguir os passos os escoceses, galeses e irlandeses do norte no Reino Unido, os corsos na França, os de Flandres na Bélgica e por aí afora. Ou seja, em tempos em que a União Europeia tenta fortalecer a unidade do continente, os movimentos nacionalistas se tornam mais latentes.