O então primeiro-ministro britânico David Cameron não tinha noção do que aconteceria em junho de 2016, quando decidiu realizar um plebiscito para que a população se manifestasse se queria ou não que o Reino Unido permanecesse como membro da União Europeia. Com sua falta de previsão para, ao menos, fazer uma sondagem antes entre os organismos de pesquisas, e acreditando apenas em sua convicção de que o voto pela permanência seria vencedor, acabou gerando um problema maior do que todas as posses da Grã-Bretanha em seu tempo de esplendor. Diante do caos que se seguiu à votação Cameron teve que renunciar, tendo Theresa May assumido o abacaxi com a disposição de descascá-lo. Para isto tinha duas opções: simplesmente comunicar a União Europeia que estava saído e arcar com os enormes custos dos acordos já firmados, ou negociar com Bruxelas um plano de saída que atendesse os dois lados.
May tratou de negociar a segunda opção. Depois de muito tempo e muitas dificuldades conseguir elaborar um projeto, que levou a Bruxelas e teve aprovação. Porém, ao submetê-lo aos seus pares no Parlamento britânico foi derrubado. Depois de muitas idas e vindas e de frustrados resultados com todos os planos rejeitados, May decidiu nesta terça-feira apresentar uma outra proposta aos seus pares, onde, em um dos itens, contemplava a realização de um novo plebiscito. Algo que, segundo as pesquisas, estaria atendendo a maior parte da população. Isto porque, ao perceber os prejuízos que estão tendo e os maiores ainda que terão pela frente, é cada vez mais crescente o número de contestadores do Brexit. Aliás, dentre esses, já surgiu até os praticantes do “lacto-terrorismo”, que consiste em jogar milk-shake nos deputados a favor do Brexit.
Com esta proposta, a primeira-ministra recebeu de seus partidários o golpe fatal: vindo o pedido de renúncia. Polidamente, disse que fica até 7 de junho, quando, possivelmente, assumirá o ex-prefeito de Londres Boris Johnson, um defensor do Brexit duro. Ou seja, alguém que atende a vontade dos conservadores, que se preocupam mais com a presença de migrantes no país, do que com as perdas que terão, com a saída de inúmeras empresas, com o consequente desemprego, além da perda do direito de trabalhar ou estudar em qualquer um dos 28 países membros da Comunidade.
Para a União Europeia, por mais que venha a conseguir um acordo com Londres, será um golpe no ideal que a criou: a formação de uma grande e unida nação europeia para se contrapor aos nacionalismos extremados que a levaram a duas grandes guerras e milhões de mortos. Para os britânicos, um golpe que pode fazer o Reino ficar desunido, pois a Escócia votou pela permanência na UE.