Os manifestantes de Hong Kong conseguiram sua primeira vitória: a governadora Carrie Lam, que é preposta de Pequim, disse ter abandonado a implantação da lei que permitiria a extradição para julgamento na China continental de quem cometesse crime na antiga possessão britânica. O tema tem sido motivo de intensas e constantes manifestações, num movimento que tem como símbolo o porte de guarda chuva por parte dos manifestantes.
Hong Kong tornou-se uma colônia britânica após a primeira guerra do ópio, travada de 1839 a 1842. Após tratativas entre as partes foi assinado um acordo, em 1984, prevendo a devolução da colônia à China em 1997. Foi estabelecido que a partir dali e por um período de 50 anos, ou seja, até 2047, se teria um arranjo de um país dois sistemas. Tendo crescido sob a legislação britânica e se transformado em um grande centro financeiro mundial, Hong Kong tem procurado conservar essas prerrogativas. Inclusive a de eleição livre de seu governante. O que é feito, porém, a partir de uma lista de nomes aprovados por Pequim. E foi justamente esta atual governadora que procurou introduzir uma norma jurídica ditada pelo regime central chinês. Como todos conhecem a profunda diferença que há entre a legislação britânica e a chinesa, deu-se o movimento rebelde que tomou conta da antiga colônia.
Fosse em outros tempos, Xi Jinping já teria mandado os tanques sufocar o movimento, como foi feito na Praça da Paz Celestial, em 1989, quando jovens clamavam por democracia. Acontece que hoje a situação da China é diferente. O país tornou-se um grande ator no cenário econômico mundial. Deixou de produzir apenas quinquilharias para desenvolver a tecnologia, como a 5G. Sua fabricante de celulares Huawey já é hoje a segunda do mundo no setor e seus carros estão entrando nos mais diversos países. Situação que permitiu a Pequim colocar em prática a sua nova Rota da Seda, construindo portos, aeroportos, rodovias, ferrovias, etc, ao longo da Ásia e da Europa, impulsionando seus negócios.
E é justamente aí que vem o detalhe principal que está deixando Pequim de mãos amarradas para agir com truculência em Hong Kong. Pois é por ali, naquele grande centro financeiro, que entra cerca de 70% do investimento estrangeiro para impulsionar os negócios de Pequim, como a própria Rota da Seda.