Ao passar esta semana na Inglaterra pude conviver com dois acontecimentos marcantes para os britânicos. Um deles, o casamento real. É impressionante como cultivam as questões relacionadas à realeza. As ruas de Londres ficaram todas embandeiradas, as vitrines repletas de fotos de Harry e Meghan, e a BBC TV montou um posto defronte o palácio de Windsor, de onde passou a transmitir ininterruptamente desde quinta-feira. E não é para menos, afinal, tudo que envolve a família real é atração para turistas e, por conseqüência, fonte de renda.
Mas o outro acontecimento não tem nada de festa. Tem é preocupação. Com o Brexit, ou seja, o processo de saída do Reino Unido da União Europeia. Preocupação em Londres, que votou 60% contra a saída e que agora o que está vendo é a saída de grandes empresas que não querem ter a sua atuação cerceada na União Europeia e, por isto, mudam de sede. A preocupação se estende para a própria integridade do Reino Unido, tendo em vista que a Escócia também votou contra a saída. E com a implantação do processo tende a crescer o movimento separatista escocês.
Um amigo britânico, David Secher, professor da Universidade de Cambridge, falou das dificuldades de intercâmbio que passam a haver e da impossibilidade para ele de continuar a participar de organismos europeus conforme vem fazendo há anos. Para Secher, o Brexit é uma catástrofe. Não há consenso sobre a possibilidade ou não de reverter o processo. A União Europeia já deu sinais de que estaria disposta a discutir esse cenário, mas o governo de Teresa May não demonstra interesse. Segue aquela velha fleuma britânica de que uma decisão tomada não pode ser revertida, por maior custo que tenha. O acordo final, depois de dois anos de negociações, precisa ser aprovado pelo Parlamento britânico. E a propósito, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, em uma cúpula recente em Bruxelas, usou a letra da música “Imagine”, de John Lennon, (“you may say I’m a dreamer, but I’m not the only one”) para justificar sua esperança de que o Reino Unido venha a mudar a decisão sobre a separação.